Brasil entre tarifas e oportunidades: como a China pode ser aliada estratégica após ofensiva de Trump

Eduard Zhuravlev
Eduard Zhuravlev

A imposição de uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, anunciada por Donald Trump, gerou um forte abalo nas relações comerciais entre os dois países. Embora a medida tenha causado grande repercussão política, analistas avaliam que o impacto sobre o Produto Interno Bruto brasileiro pode ser limitado. Ainda assim, setores específicos que têm forte dependência do mercado norte-americano, como o de suco de laranja, autopeças, carne e aviões, poderão sentir com intensidade os efeitos das tarifas. A possibilidade do Brasil compensar tarifas de Trump vendendo para China surge como uma alternativa estratégica no cenário de instabilidade.

O Brasil pode compensar tarifas de Trump vendendo para China, mas essa possibilidade enfrenta limitações importantes. Apesar de serem os dois maiores parceiros comerciais do país, os produtos exportados para os Estados Unidos diferem bastante daqueles destinados ao mercado chinês. Enquanto os norte-americanos compram manufaturados como aviões, peças industriais e equipamentos agrícolas, a pauta de exportação para os chineses é majoritariamente composta por commodities como soja, petróleo e minério de ferro. A tentativa de redirecionar produtos industrializados brasileiros para a China esbarra em obstáculos logísticos e mercadológicos.

A proposta de que o Brasil pode compensar tarifas de Trump vendendo para China ganha força no discurso político, mas encontra entraves na prática econômica. A China, embora já compre quase um quarto de tudo que o Brasil exporta, não apresenta a mesma demanda pelos bens industrializados visados pelos americanos. Produtos como café, carne bovina e petróleo, já negociados com os dois países, são vistos como os mais viáveis para realocação. No entanto, a baixa nos preços internacionais, especialmente no caso do minério de ferro, pode reduzir a margem de lucro dos exportadores brasileiros.

Mesmo que o Brasil possa compensar tarifas de Trump vendendo para China em parte, setores como o de suco de laranja enfrentam uma ameaça real. Os Estados Unidos são destino de quase metade das exportações dessa indústria, que já sofre com sobretaxas anteriores. A nova tarifa, considerada insustentável pela CitrusBR, poderá levar à paralisação de colheitas, interrupção do funcionamento de fábricas e grandes perdas em toda a cadeia produtiva. A Europa, principal alternativa de mercado para o suco brasileiro, não possui capacidade de absorver os excedentes sem comprometer o valor comercial do produto.

Para especialistas, os produtos industrializados serão os mais penalizados, pois têm mais dificuldade de encontrar novos destinos com o mesmo nível de exigência técnica e escala de compra. Autopeças, por exemplo, são altamente especializadas e muitas vezes vendidas em esquemas intrafirma, dificultando a diversificação de mercados. No setor aeronáutico, a dependência do Brasil tanto para exportar quanto para importar peças dos Estados Unidos torna o impacto ainda mais profundo. A cadeia de produção da Embraer pode ser fortemente prejudicada, afetando inclusive a capacidade de investimento da empresa no médio prazo.

A possibilidade de que o Brasil pode compensar tarifas de Trump vendendo para China também depende da disposição chinesa em atuar estrategicamente. Autoridades do país já criticaram abertamente as tarifas norte-americanas, classificando-as como coercitivas. Há, portanto, uma abertura geopolítica para que a China aproveite o momento e fortaleça sua posição como principal destino das exportações brasileiras. Essa movimentação, no entanto, exigirá acordos bilaterais, ajustes logísticos e incentivos para ampliar a gama de produtos aceitos no mercado asiático.

O presidente Lula já sinalizou que, se não houver acordo com os Estados Unidos, responderá com a mesma intensidade, aplicando tarifas de 50% sobre produtos norte-americanos. A retaliação pode ampliar ainda mais as tensões, criando um ciclo de sanções com impacto generalizado no comércio bilateral. Nesse cenário, a possibilidade de que o Brasil pode compensar tarifas de Trump vendendo para China ganha um componente político adicional. O apoio chinês ao Brasil neste momento pode fortalecer a posição internacional do país e enfraquecer a narrativa protecionista de Trump.

Por fim, o argumento de que o Brasil pode compensar tarifas de Trump vendendo para China encontra sustentação parcial na realidade, mas exige cautela. O redirecionamento de exportações não é imediato nem universal. É preciso avaliar com precisão quais setores podem se beneficiar e quais precisarão de apoio para se adaptar. A construção de uma estratégia comercial sólida, diversificada e politicamente coordenada será essencial para que o Brasil transforme uma ofensiva protecionista em uma oportunidade de fortalecer seus laços com a Ásia e reposicionar sua economia globalmente.

Autor: Eduard Zhuravlev

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