Apesar de avanços em políticas públicas nas últimas décadas, metade das cidades brasileiras ainda não possui estrutura adequada para enfrentar a fome de forma eficaz. A ausência de órgãos especializados, conselhos ativos ou planos municipais de segurança alimentar evidencia um problema crônico que afeta milhões de cidadãos, especialmente em áreas mais vulneráveis. Essa lacuna institucional compromete não apenas a distribuição de alimentos, mas também o acesso a programas de nutrição e iniciativas de prevenção, colocando em risco o direito básico à alimentação digna.
A falta de preparo das cidades para lidar com a fome reflete diretamente nas condições de vida da população. Sem políticas estruturadas, famílias enfrentam dificuldades para acessar alimentos saudáveis, e muitas vezes recorrem a produtos ultraprocessados ou de baixo valor nutricional. O problema é agravado em municípios pequenos, onde recursos financeiros e humanos são limitados, e até em cidades maiores, onde a burocracia e a má gestão impedem que as políticas implementadas atinjam quem realmente precisa.
Além da carência estrutural, o cenário evidencia fragilidades na atuação política. Muitos gestores municipais não priorizam a criação e manutenção de conselhos de segurança alimentar ou a execução de programas de combate à fome. A ausência de interesse político e de compromisso com políticas de longo prazo cria um ciclo de vulnerabilidade em que ações emergenciais substituem estratégias permanentes, e a fome se mantém como um problema persistente na vida de milhões de brasileiros.
A relação entre fome e desigualdade social torna o quadro ainda mais preocupante. Municípios sem estrutura adequada acabam agravando disparidades regionais, pois a população mais pobre é quem sofre com a escassez de programas efetivos de alimentação e suporte nutricional. O problema se reflete em crianças que frequentam escolas sem merenda adequada, idosos sem acesso a programas de alimentação e famílias que dependem de cestas básicas irregulares ou insuficientes.
Em muitos lugares, a responsabilidade recai sobre políticas federais que não conseguem alcançar de forma eficiente os municípios sem estrutura. A falta de articulação entre governo federal, estadual e municipal faz com que recursos e programas cheguem de maneira fragmentada, sem acompanhamento contínuo. Isso reforça a importância de gestores locais comprometidos, que possam implementar políticas de longo prazo, monitorar resultados e criar estratégias adaptadas à realidade de cada cidade.
A ausência de estrutura para enfrentar a fome não é apenas um problema administrativo; é uma questão ética e de governança. Cidadãos esperam que os políticos assumam responsabilidade e desenvolvam estratégias permanentes para combater a vulnerabilidade alimentar. Sem isso, a fome continua sendo uma consequência da negligência institucional, da priorização de interesses políticos imediatos e da falta de planejamento estratégico em nível municipal.
Para que haja avanços reais, é essencial que as cidades criem e mantenham conselhos municipais ativos, elaborem planos de ação, destinem orçamento adequado e integrem iniciativas locais a programas nacionais. Somente com estrutura administrativa e comprometimento político será possível reduzir a fome e promover acesso à alimentação adequada para todos, garantindo que direitos básicos deixem de ser negligenciados.
Em resumo, a situação atual revela que metade das cidades brasileiras não está preparada para combater a fome, e que a responsabilidade política é central para mudar esse cenário. Sem planejamento, recursos e comprometimento, políticas de segurança alimentar permanecem ineficazes, e a desigualdade social segue aumentando. Combater a fome requer mais do que programas isolados: exige estrutura, ação contínua e liderança política comprometida com a garantia de direitos.
Autor: Eduard Zhuravlev

